A gente tem que lutar todos os dias
A primeira vez que ouvi que eu era negra foi de uma pessoa branca, ela me disse: você é negra. A primeira vez que entendi o racismo foi quando ao abrir o portão de acesso ao prédio que eu morava uma mulher branca me parou e me tratou como uma prestadora de serviço dela, serviço esse maioritariamente ocupado por mulheres negras. Eu respondi para ela: eu não sou funcionária, eu moro aqui. Ela não soube o que responder, virou as costas pra mim e eu já subi as escadas com lágrimas nos olhos e chorei por horas. Chorar doeu muito nesse dia. Eu, por ser negra da pele clara e ter o cabelo liso escovado na época, nunca achei que passaria por isso, mas sim, eu passei, chegando em casa, com as compras na mão e a chave do apartamento localizada numa Avenida, pago com o trabalho dos meus pais que sempre priorizaram a educação e a minha segurança e dos meus irmãos (meu irmão era graduando em Ciências da Computação, chefiava o setor de informática de uma rede de alimentos em atacado, minha irmã é psi